Medellín, a cidade mais inovadora do mundo

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A primeira coisa que vem na cabeça da maioria das pessoas ao ouvir falar de Medellín ainda é o seu passado criminoso. O famoso Cartel de Medellín e a produção de cocaína foi a única referência que o resto do mundo teve da cidade por mais de 20 anos, e sua atuação garantiu até o triste título de “cidade mais violenta do mundo” a Medellín na década de 80. Vinte anos após a morte de Pablo Escobar e a desestruturação do cartel, é impressionante o quanto a cidade mudou – só em termos de reconhecimento mundial, em 2012 Medellín ganhou o título de “cidade mais inovadora do mundo” da ONG Urban Land Institute e em 2013 foi considerada a “cidade do ano” pelo Wall Street Journal (inclusive deixando Nova York, que também concorria ao prêmio, a ver navios).

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Pra ser sincera eu não entendia muito bem o porquê e cheguei lá meio descrente, até ver com meus próprios olhos o tanto que o governo (e a iniciativa privada!) investiu em inclusão social, mobilidade urbana, segurança e principalmente educação. Foram bibliotecas, centros culturais, escolas e espaços públicos construídos com o intuito de incluir a população que mora nas favelas, diminuindo o abismo que antes existia entre as classes sociais. E literalmente diminuindo esse abismo com a expansão do metrô, linhas de ônibus e instalando escadas rolante e teleféricos que sobem o morro, tornando o acesso beeeem mais fácil.

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O que senti em Medellín é que, apesar de ter seus bairros mais humildes e mais luxuosos como em toda cidade, não tem muita gente esquecida pela sociedade, sabe? Excluído no alto de uma favela sem acesso a transporte, saúde, educação e especialmente cultura.. O Brasil tem muito, muito o que aprender com a cidade e realmente emociona ver como com empenho tudo é possível.

Eles partem do princípio que a educação é a maior arma contra o tráfico e o maior bem que uma pessoa pode ter, e hoje em dia milhares de crianças frequentam centros culturais e bibliotecas – e não são qualquer prediozinho abandonado caindo aos pedaços que virou um centro comunitário sabe? São edifícios projetados por escritórios renomados (muitas vezes de graça!), com tecnologia de ultima geração e em áreas degradadas que foram transformadas graças a essa inclusão. Acho até que a simpatia do povo medelinense foi um pouco influenciada por essa a mudança, esse sentimento de que todo mundo tem seu papel na sociedade e ninguém merece menos só porque mora no morro.

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Enfim, dá pra ver que voltei impressionada com Medellín e não discordo do titulo de cidade mais inovadora. Claro que ainda há muito a ser feito, mas podemos esperar grandes coisas da cidade (que inclusive está no ranking das melhores cidades para passar a velhice na América do Sul). Afinal, quer algo mais especial que um governo/sociedade que realmente prioriza o bem-estar dos cidadãos? :-)

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Eu vi na prática esse lado de Medellin quando fomos visitar o Parque Arví, que fica numa das partes mais altas da cidade. Pra chegar lá pegamos o metrô que corta a cidade inteira e na estação Acevedo trocamos pela linha K, o teleférico (ou Metrocable) que sobe até a comunidade Santo Domingo Savio. Quem quiser pode pegar o outro Metrocable que leva ate o Parque Arví direto, mas recomendo DEMAIS sair da estação e ver a transformação desse lugar.

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Santo Domingo já foi um dos bairros mais perigosos da cidade e até meados de 2003 as milícias controlavam as ruas, ninguém podia sair à noite.. Mas tudo isso mudou com o investimento em educação e transporte (e turismo, ja que a linha que leva ao Parque Arví passa por lá), e é em Santo Domingo que está uma das bibliotecas públicas mais importantes no processo de renovação de Medellín, o Parque Biblioteca España. Não tem foto do exterior porque estão reformando a fachada, mas o prédio é tao emblemático que inclusive ganhou prêmios internacionais de arquitetura quando foi finalizado.

medellin_streetart“Quiseram nos enterrar – não sabiam que éramos sementes.”

Sao três prédios que abrigam a biblioteca, centros de computação, centros de treinamento e um auditório doado pelo governo espanhol (por isso a homenagem à Espanha no nome do complexo). Tenho até vergonha de admitir que no começo fiquei com medo – assim que saímos do Metrocable escondemos as câmeras nas bolsas, o celular no bolso, e fomos andando pelo bairro tentando não fazer “cara de turista” e chamar o mínimo de atenção possível.

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Mas foi só interagir com as crianças passando de bicicleta, as pessoas na biblioteca e os meninos que vieram nos perguntar de onde a gente era (“do Brasil? Sabe sambar?” ahahah tadinho, num sei dançar nada) que essa neura de estou numa favela, tenho que prestar atenção passou. Infelizmente só andamos mesmo entre a estação e a biblioteca (e eu parando pra procurar as tais bolsas colombianas ehehe), queria ter tirado mais fotos mas estávamos com pressa e seguimos logo pro Parque Arví.

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Todo mundo achava que seria um passeio rapidinho de teleférico e já íamos chegar no tal parque, mas fomos subindo, subindo, subindo.. As casas foram se espalhando, casinhas de taipa começaram a aparecer, uma plantação aqui, um quintal com roupas no varal ali.. Quando a gôndola parou de subir e eu achei que estávamos chegando, ai é que o passeio começava..!!

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O trilho do teleférico estabiliza e continua indo em frente, entrando cada vez mais numa floresta de pinheiros e pés de eucalipto que segue a perder de vista. As montanhas lá ao longe ajudam a entender a dimensão dessa reserva ecológica, e o silêncio (e cheiro delicioso de floresta) é uma coisa de outro mundo! Não sei se o trajeto durou realmente uns 20 minutos ou se foi o tempo que passou mais devagar, só sei que foi muito especial sobrevoar a floresta ouvindo apenas o canto dos pássaros.

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Ao chegar damos de cara com um mercado vendendo vinhos artesanais, comidas antioquenhas e muitas frutas fresquinhas, tudo produzido nas comunidades perto do parque! Também tem um centro de visitantes, que mostra um pouco da história do lugar e de onde saem os guias de hora em hora, das 10 às 15h. Quando chegamos e vimos a maravilha que era aquele lugar, deu uma dor no coração de ter que ir embora tipo 15 minutos depois – uma das meninas ia pegar o voo bem cedo e não deu tempo de fazer nenhuma trilha ou aproveitar nada do que o parque oferece. #todoschora

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Mas valeu muito a pena ir, só de pisar lá recarreguei as energias e me senti tão feliz! Uma viagem a Medellín não estaria completa sem esse passeio, pode ter certeza :-)

A reserva natural gigantesca que hoje abriga o parque era aproveitada basicamente pela elite da cidade, mas em 2009 foi transformada num espaço gratuito de ecoturismo – são quase 2 mil hectares de floresta preservada e mais de 80km de trilhas! E como se não bastasse isso, o Parque Arví  também abriga um sitio arqueológico pré-hispânico, dezenas de espécies de mamíferos, borboletas e flores, lagoas, espaços para piquenique, pra andar de bicicleta e dá até pra alugar um cavalo por lá.

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Toda essa riqueza ambiental e histórica é preservada graças ao uso do parque, com turismo sustentável que traz investimentos e integra as comunidades da região. Agora me diz, Medellín é uma cidade inspiradora, sim ou claro? :-)

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