No meu post anterior sobre a Islândia, eu disse que nosso passeio pela costa sul foi a minha parte preferida da viagem e o lugar mais lindo que visitei no país. Mas se você tem apenas um dia na Islândia por causa de uma conexão longa/stopover, o passeio que indico não podia ser outro: percorrer o Golden Circle, ou Círculo Dourado, um conjunto de três atrações localizadas bem perto de Reykjavik.

Islândia no inverno: Tour pelo Círculo Dourado, uma das principais atrações do país

Islândia no inverno: Tour pelo Círculo Dourado, uma das principais atrações do país

O Círculo Dourado disputa com Reykjavik e a Blue Lagoon pelo posto de atração mais visitada do país, e depois de fazer esse tour deu pra entender o porquê. São 300km de estradas que vão passar por algumas das atrações mais lindas e impressionantes da Islândia, num circuito que pode facilmente ser feito em um dia. No nosso caso o tour durou apenas 6 horas porque fomos pra Islândia no inverno e não tínhamos muitas horas de luz, mas existem tours maiores no verão combinando o Golden Circle com outras atrações da região.

Primeira parada: Þingvellir National Park

Como preferimos fazer todos os passeios com tours pequenos (em vez de alugar um carro) a van foi nos buscar perto das 9 da manhã, mas na verdade o sol só nasceu bem depois que chegamos na nossa primeira parada. Estava chovendo e ventando muito quando chegamos no Parque Nacional Þingvellir e ficamos esperando o dia começar a clarear um pouquinho pra sair do centro de visitantes – aliás, todas as atrações do Círculo Dourado tem um centro de visitantes, perfeito pra fugir do vento e se esquentar com um café!

Ali ficamos lendo sobre a história do Parque Nacional, todo seu folclore e a importância daquele lugar no desenvolvimento da Islândia. O Þingvellir (ou Thingvellir) National Park foi o primeiro dos três parque nacionais do país a ser fundado, e é o único com o título de Patrimônio Mundial da UNESCO.

Olhando pro vale é impossível não se impressionar com a paisagem, ainda mais num dia congelante no meio do inverno. Quando saímos de Reykjavik a cidade estava coberta de neve, mas eu não imaginava que teríamos a sorte de ver todo o Círculo Dourado transformado como num conto de fadas. Eu nunca tinha visto fotos do parque assim coberto de neve, e foi uma surpresa visitar todas aquelas atrações sobre as quais eu tinha lido tantas vezes e encontrar um cenário completamente diferente…

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A Islândia é um dos lugares com atividade tectônica mais forte do mundo, e no Þingvellir National Park dá pra ter uma experiência tão surreal que eu praticamente precisei me beliscar: você pode andar entre duas placas tectônicas!

Mas não é por coincidência que podemos andar entre as placas tectônicas da Eurásia e da América nesse parque – na verdade a Islândia foi formada justamente graças a essa peculiaridade geológica. Eu explico: no fundo do mar passa a dorsal mesoatlântica, uma cordilheira submarina em constante movimento, e durante milhares de anos as duas placas tectônicas tem se afastado lentamente… O magma que escapa pelas brechas pode subir à superfície, se solidificar e dar origem a ilhas, como aconteceu com a Islândia (que continua crescendo e, por estar bem em cima dessa dorsal, continua a ter uma atividade vulcânica constante).

A Islândia é o único lugar no mundo onde dá pra andar entre duas placas tectônicas, justamente porque é o único lugar em que o vale formado pelo afastamento das placas não está no fundo do mar. E é no Parque Nacional Thingvellir que dá pra ter uma vista privilegiada da história geológica do país, que continua a crescer em torno de 2cm por ano, já que as placas tectônicas continuam a se afastar…

Por causa do movimento das placas e dos ocasionais terremotos, algumas fissuras enormes aparecem na rocha e podem ser inundadas por água doce da geleira vizinha Langjökull, e é numa dessas fissuras onde dá pra mergulhar! Isso mesmo, se andar não for o bastante e você quiser ter a experiência de nadar entre duas placas tectônicas, também dá pra fazer isso na Islândia!

Eu fiquei morrendo de vontade de agendar um tour de snorkel na fissura de Silfra, que fica dentro do parque Thingvellir, mas além de ser um passeio bem caro a gente não tinha tempo (ou coragem de mergulhar no frio!) pra isso… Diz que a visibilidade embaixo d’água pode chegar a 100 metros (!!!) e o mergulho em Silfra sempre aparece naquelas listas de maiores aventuras pra fazer no mundo, sabe? Quem sabe no futuro :-)

Eu poderia escrever parágrafos e mais parágrafos sobre as belezas do Parque Nacional Thingvellir (tambem tem cachoeira, trilhas, daria pra passar facilmente um dia inteiro por lá!), mas não é apenas pelas suas atrações naturais que o parque é conhecido. Na verdade a razão do parque ser Patrimônio da Humanidade é outra: foi ali que surgiu o primeiro parlamento do mundo!

Quando os primeiros habitantes da Islândia chegaram na ilha vindos da Noruega, por volta de 870, foram se espalhando e dividindo o território entre seus clãs. Mas em poucas décadas os vikings perceberam que era necessário organizar um governo para resolver as disputas entre os diferentes clãs, e foi assim que o primeiro parlamento da história foi criado.

O vale foi escolhido por causa de sua localização central, e cada clã mandou seus representantes pra discutir regras de boa convivência nessa primeira reunião do parlamento, ou Alþingi, no ano de 930 (!!!) Foi inclusive por causa da reunião que o parque Þingvellir ganhou esse nome, que pode ser traduzido como “campos do parlamento”, e o encontro deu tão certo que passou a ser anual.

O parlamento se reunia todos os verões em Þingvellir para discutir mudanças nas leis (que não eram escritas, mas sim recitadas!), resolver disputas entre um clã e outro e nomear jurados. Também foi numa das reuniões que decidiu-se que o país iria se converter ao cristianismo (como nosso guia falou: “Isso mesmo, sem precisar de guerra!”), no ano 1000, e mesmo quando o país passou a fazer parte do reino da Noruega e posteriormente Dinamarca, os líderes continuaram a se reunir no vale.

Também foi em Þingvellir que os islandeses foram comemorar sua independência da Dinamarca em 1944, e é por causa de toda essa riqueza histórica que em 2004 a UNESCO reconheceu Þingvellir como Patrimônio da Humanidade… Por causa da chuva e da escuridão as fotos no Parque Nacional Þingvellir não ficaram nada boas (a lente da câmera estava tão ensopada que é um milagre que alguma foto tenha se salvado ahaha), mas é um lugar onde eu poderia passar horas e horas fotografando, observando e imaginando todos os acontecimentos de séculos atrás. Quando voltarmos no verão eu também quero muito explorar as trilhas do parque com calma!

Segunda parada: vale geotermal de Haukadalur

A segunda parada do nosso tour foi na região de Haukadalur, que fica a cerca de 50 minutos de Þingvellir e é conhecida por sua intensa atividade geotérmica. É lá onde fica Geysir, o gêiser responsável por nomear toda essa categoria de “poças de água fervente que explodem de vez em quando”, além de outros gêiseres menores e muitos buracos de onde sai vapor diretamente do centro da terra.

Vimos poças e mais poças com água quente (em torno de 90 °C!), uma vegetação bem única com muito musgo e também várias árvores peladas. É uma paisagem tão única, e acho que a neve deixou tudo ainda mais impressionante!

Geysir foi o primeiro gêiser registrado e já chegou a jogar água a mais de 120 metros de altura! Apesar do Geysir estar inativo há muito tempo (ele só “acorda” quando acontece algum terremoto), não precisa se desesperar – seu irmão menor, Strokkur, dá um show garantido a cada 10-15 minutos.

Strokkur joga água a apenas 20-40 metros de altura, e eu não sei nem descrever como é louco ficar ali observando a paisagem, e do nada ver um jato de água ser arremessado tão alto! Não passamos muito tempo lá porque no inverno não dá pra demorar num só lugar, mas mesmo assim conseguimos ver o Strokkur em ação umas 4 vezes.

Terceira parada: Gullfoss, a cachoeira dourada

A última parada oficial do Círculo Dourado é pra ver uma das cachoeiras mais famosas da Islândia. A Gullfoss (“cachoeira dourada” em islandês, por causa da cor da água num dia de sol) fica a menos de 10 minutos de Haukadalur e na verdade é um conjunto de quedas d’água.

Apesar dos seus 32m de altura ela não é a maior cachoeira do país, mas é a maior em volume de água e eu garanto que ficar cara a cara com ela vai fazer você se arrepiar. No verão dá pra descer por uma trilha e chegar pertinho da queda d’água, como a Mila mostrou nesse post – aliás, olha como parece que estamos mostrando lugares completamente diferentes!

Não vimos a paisagem da Gullfoss com grama e os famosos arco-íris que se formam por lá nos dias de sol, mas em compensação vimos uma cachoeira congelada! :-) Só lembre de se agasalhar muito porque lá venta demaaaais, e como ainda estava chovendo saímos da passarela dando graças pelas roupas impermeáveis!

Outro detalhe muito interessante de uma visita a Gullfoss é ver como essa beleza natural quase foi destruída pro causa do capitalismo. No início do século XX alguns investidores estrangeiros se deram conta do potencial da cachoeira e fizeram planos para transformar a área numa hidroelétrica – eles conseguiram a permissão do governo, mas por causa dos protestos da filha do dono das terras, Sigríður Tómasdóttir (que foi andando descalça até Reykjavik para protestar!), os planos foram engavetados.

Perto da Gullfoss também tem um centro de visitantes com loja de roupas (vai que seu gorro sai voando, né?), lanches, souvenirs etc. e também uns displays contando a história da cachoeria e homenageando a Sigríður. Deu aquele orgulho feminista ver como uma mulher sozinha foi contra tudo e todos pra preservar a natureza e conseguiu mudar o destino desse lugar!

Bônus: cavalos islandeses e a cratera Kerið

Como o dia já estava quase acabando nosso guia só conseguiu encaixar mais duas mini paradas depois das atrações principais do Círculo Dourado. Fomos numa fazenda ver os famosos cavalos islandeses (me diz se não são a coisa mais fofa do mundooooo!) e o guia contou que os cavalos faziam tanto sucesso com os turistas que passavam pela estrada, que o dono da fazenda abriu uma estradinha lateral pra que todo mundo pudesse estacionar.

Ele ainda colocou a comida dos cavalos perto da cerca pra ajudar a atrai-los pras fotos com os turistas, e praticamente criou uma nova atração – assim, sem cobrar nada por isso. O povo islandês não é incrível?!

Ficamos uns minutinhos tirando foto com os cavalos (são uma das espécies mais resistentes e fascinantes!) e voltamos pra van a tempo de fazer uma parada rápida na cratera Kerið. Essa é apenas uma das muitas crateras vulcânicas da região, mas é famosa pela sua água esmeralda e pela trilha que dá pra fazer indo até perto da água.

Nós nem vimos a água esmeralda porque já estava bem escuro, e nem daria pra fazer uma trilha porque no inverno fica muito perigoso, mas acho que valeu a visita mesmo assim. Eu estava em dúvida se marcava um tour que incluísse Kerid ou um tour que passasse pela Secret Lagoon, uma lagoa termal que vem ficando cada vez mais famosa (e é vendida como uma “alternativa barata à Blue Lagoon”) – no fim das contas optei por Kerid e fiquei muito feliz com a escolha.

Por mais que a ideia de descansar numa piscina termal durante o inverno seja maravilhosa, a realidade é que não dá tempo de fazer isso sem comprometer as outras paradas do Círculo Dourado. O sol se põe perto das 16h, nós não ficamos ociosos por um segundo e não tinha tempo sobrando em nenhuma das paradas, sabe? Não sei como teriam encaixado banho numa lagoa, mas desconfio que o tour viraria uma corrida contra o tempo…

Terminamos o nosso dia exaustos, ensopados, mas muito felizes por ter tido a sorte de ver o Círculo Dourado assim todo branquinho! Foi o jeito perfeito de começar nossas aventuras pela “terra do fogo e do gelo” :-)

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